sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dossiê Zona Sul

UMA SÉRIE DE 30 ENTREVISTAS QUE REVELA UM POUCO DAS DIFERENÇAS, INTERAÇÕES E PRECONCEITOS ENTRE A REGIÃO E O SUBÚRBIO DA CIDADE


O mito da Cidade partida: um Rio de Janeiro que é um ao Sul e outro ao Norte. Há muito tempo essa ideia ronda a cabeça dos cariocas, mas pouco se faz no sentido de expô-la e debatê-la sem maiores traumas. Crescendo e conhecendo a minha cidade, esse mito me chamou muito a atenção e me despertou a falar sobre o que muitos fingem que não existe. Afinal, o tempo passa, as coisas mudam, mas parece que ainda existem diferenças, barreiras e preconceitos entre a zona sul e o subúrbio do Rio de Janeiro

Nesta terça-feira (20), em Botafogo, e quinta-feira (22), em Copacabana e no Leblon, estive aplicando entrevistas que auxiliarão a construção da minha monografia de conclusão de curso, que está debruçada nessa temática. Após realizar 30 entrevistas, algumas questões interessantes podem ser apontadas e nos mostram que ainda há muito a se fazer no sentido de eliminar as distâncias e os preconceitos dentro da nossa cidade.

Uma primeira coisa que me chamou a atenção foi a falta de noção da delimitação real do subúrbio. Quando pedi aos entrevistados que dissessem o nome de três bairros do subúrbio, muitos responderam nomes de municípios da Baixada Fluminense. Uma menina de São Conrado chegou a responder "Baixada" como se fosse um bairro da cidade. Sem contar que vários deles pensavam e pensavam muito antes de responder. A pergunta seguinte, que era com que frequência os entrevistados costumavam ir ao subúrbio, não podia ter respostas diferentes: Muito pouco, é raríssimo, nunca vou, e por aí vai.

Os laços de amizade e parentesco entre suburbanos e moradores da zona sul existem sim, porém de modo geral estão enfraquecidos pela distância. Distância, aliás, é uma das palavras que um morador da zona sul mais associa negativamente ao Subúrbio. Só perde para Violência. Reconhecem que ela também está presente na zona sul, mas demonstram temê-la longe de casa. Quando lhes peço para associar uma palavra positiva ao subúrbio, são em geral taxativos: Humildade, Vizinhança, Amizade... Lá todos se relacionam bem, vivem em comunidade, são solidários!

Quando pergunto se eles acham que existe preconceito com que mora no subúrbio, são quase unânimes em reconhecer que sim. Um ou outro nem faz questão de esconder o próprio preconceito e muitos vão deixando transparecê-lo ao longo da entrevista. A maioria assume que é possível perceber diferenças de comportamento entre suburbanos e moradores da zona sul. E uma parcela significativa entra no mérito de descrevê-las. Ideias como a de que suburbanos falam alto, tem menos educação, jogam sujeira no chão, se vestem de modo diferente apareceram e não foi pouco. Uma mulher me assustou ao dizer que suburbanos são "atrasados mentalmente". Quando notou que foi um pouco radical mudou para "culturalmente", mas manteve o sentido de atraso.

Quando perguntei como os entrevistados achavam que um morador do subúrbio usufrui do espaço da zona sul, muitos não tiveram dúvidas: vem à praia, em busca de lazer em geral. Uma parcela significativa associou a presença do suburbano na zona sul ao trabalho também. Uma senhora, que nasceu no subúrbio mas mora atualmente em Copacabana, disse que o suburbano faz muita bagunça na praia e suja a zona sul. Chegou a citar que o metrô, por onde eles chegam, está sempre sujo, sobretudo aos domingos. Sobrou até para os moradores da Baixada, a quem chamou de "inconsequentes".

Também perguntei se gostariam de morar no subúrbio. Tirando um ou outro "sim" a grande maioria respondeu negativamente, seja pela falta de infraestrutura ou simplesmente porque preferem a zona sul, onde tem acesso a praia e a serviços facilmente. Algumas reações foram curiosas. Alguns acharam a pergunta engraçada e teve quem não gostou: "Sua pergunta foi redundante, ninguém vai te responder o contrário", tive que ouvir de uma jovem moradora de Botafogo.

Esses são os principais comentários a partir das entrevistas realizadas na Zona Sul. Semana que vem devo estar entrevistando moradores no subúrbio e vou voltar aqui para reportar os resultados que me chamarem atenção. Espero que tenham gostado da leitura. Até a próxima!

5 comentários:

  1. Apesar de esperar algumas reações, outras me surpreenderam. Esse trabalho vai dar um belo estudo. Sucesso!

    ResponderExcluir
  2. Agora um comentário menos relevante: Quando a pessoa aí falou que no Suburbio são mais atrasados mentalmente, você deve ter pensado: Velha FDP!! Vai tomar...!!!!

    ResponderExcluir
  3. Pois é...
    E se eu te disser que foi uma mulher jovem, de 30 anos, que já morou no subúrbio, disse isso?
    Incrível né...

    ResponderExcluir
  4. achei interessantíssima a ideia do seu tema... eh uma ótima oportunidade de sair dos preconceitos q a gente normalmente tem entorno dessa dicotomia zona sul-zona norte. existe sempre a sensação de dois mundos, em que o outro está bem distante. algo tão presente que a gente discute tão pouco, nao? e falar sobre preconceito, apontá-lo, analisa-lo, eh sempre complicado.

    ResponderExcluir